domingo, 17 de setembro de 2017

Nossos últimos momentos juntas

Então....  é isso

tudo o que eu mais queria neste momento seria voltar no tempo.
A dúvida das minhas ações e minha espera me corroei como a ferrugem. Eu fico me perguntando onde é que eu errei e procuro saber se o peso do meu coração equivale a chumbo ou pena.
Eu ando bastante angustiada e triste. Isso porque penso as vezes que se eu tivesse prestado mais atenção aos sinais  que a muitas vezes nos é enviado pelo universo as coisas poderiam estar diferentes neste momento. Eu teria percebido que tinha algo errado. Em algum momento,  eu sei que já não teria mais volta mas acho que esse momento ainda iria demorar um pouquinho pra acontecer e  eu poderia ter evitado esse momento fatídico não só no acontecimento de agora como a um ano atrás. 



Dia 30
Fui buscar minha mãe na casa de Gilza (minha irmã) para leva-la a uma consulta no hospital Servidor Publico. Ela ia passar na estomoterapia para fazer a limpeza da ferida do bumbum. 
Quando cheguei na casa da minha irmã notei ela triste,  sem vontade. Fraquinha. Ela estava com dor e realmente não estava com vontade de ir na consulta. Inclusive ela já tinha comentado com minha irmã sobre isso. Insistimos e mesmo assim a levei. 

No carro eu a coloquei deitadinha no banco de trás pra que fosse mais confortável. Levei travesseiros e já estava com o banco forradinho e fofo pra ela não ficar cansada. ela se despediu de Gilza e fomos.

Eu comentei com o Dam que eu achava que ela tava tão fraquinha e ele concordou. 

Ela tava muito quietinha e não falava muito mas disse que se pudesse tinha cancelado essa consulta e que dava  pra ir outro dia. Falamos sobre a consulta e que achava que seria tudo rapidinho

Durante todo o percurso ela não mais reclamou e a única coisa que perguntou era se ainda estava longe. Pegamos um pouco de transito no caminho.  Já no hospital colocamos ela sobre uma maca para que ficasse melhor acomodada. O Dam saiu para estacionar o carro e ficamos de nos encontrar no 5 andar. Quando ele saiu eu e minha mãe nos encaminhamos para a estomoterapia. Subimos o elevador e aguardamos a ficha. 
Como ela estava na maca juntou as mão  e a ascensorista  chamou a atenção dela pra ela descruzar as mãos 

Enquanto estávamos esperando o Dr. Ricardo e a Dra Juliete passaram por nós e eu ainda falei Oi , mas eles passaram direto por mim e por ela. Isso me deixou muito chateada pra não dizer outra
coisa. Ela deu umas cochiladas na maca e eu perguntei se ela tava com dor e a resposta dela foi que eram as dores de sempre. 

Passamos com a médica da estomo. Foi feito a limpeza da ulcera com papaína em pó e ela teve que ficar por algum tempo numa mesma posição para que o remédio fizesse efeito.
Perguntei se ela aguentaria ficar 15 min de lado e ela disse que sim. Foi colocado o remédio  e a enfermeira me ofereceu um banco onde me sentei e fiquei alisando os cabelinhos brancos dela. Ali falei que amava ela e que logo ela estaria boa. 
Ela com tristeza na voz perguntou quando eu voltaria no médico que me operou. Falei que ate o fim do mês passaria de novo com ele e que o Dam estava no primeiro andar 
retirando os exames pra eu levar.
Falei que a ferida dela estava quase fechada e que achava que bastava mais uma ou duas vezes
pra ela estar cicatrizada.  Falei que logo ela não precisaria mais tomar tanto remédio  como estava tomando e que conversaria com o medico pra ele mudar o medicamento ou fazer uma formula
onde colocasse em dois ou três comprimidos por dia e não 20 como estava tomando. 

Não senti animação nela como das outras vezes quando falava do futuro mas ainda assim ela comentou que finalmente ela ia encontrar um médico que ia curar ela. Ela tinha fé. Eu falava
e ela apenas concordava comigo.. 
O curativo foi finalizado e a médica pediu para eu esperar para entregar o remédio que ia levar para passar em casa . Aguardamos, 
o Dam chegou com todos os Laudos e eu falei animada sobre isso com ela  e que no dia 6 eu pegaria as imagens destes laudos. Como ela tava quieta perguntei se estava sentindo dores e ela falou
que sim mas que queria ir embora. 
Falei pra passar no PS e ela não quis. (talvez medo de ficar. Eu deveria ter insistido.)
Perguntei se ela queria comer uma empadinha, (coisa que nunca recusou mas desta vez alegou falta de fome) ofereci coquinho, ofereci amendoim doce.... nada quis)
Dam foi buscar o carro e ficamos na porta do hospital. Quando chegou ajeitamos ela novamente
no banco de trás deitada e saímos. Era perto das 17 hs. 
Durante o percurso não fazia nem 15 min ela quis sentar. Dam parou o carro eu fui ate o banco traseiro e coloquei ela sentada. Ela disse que estava sentindo enjoo e que tava doendo o bumbum. Como ela não tinha comido quase nada associei o enjoo com estomago vazio. Seguimos em frente e durante todo o trajeto ela sentou e deitou varias vezes sem ajuda. Dizia apenas que tava cansadae com o bumbum doendo. (a papaina sempre queimava um pouquinho quando era colocada)
Como sempre que ia no hospital ela chegava muito cansada não notei nada diferente. 
Chegamos em casa,  esquentei a janta mas ela não comeu,  Dam fez então um lanche de queijo branco com pão e cafe fresco com leite. Ela comeu apenas a metade do pão e tomou o cafe. Notei que 
estava falando mole. mas como já tinha ficado assim outra vez achei que tivesse sido por causa do remédio que havia tomado. as 16 hs.  Mais tarde fiz um mingau de aveia o que também comeu bem pouco.
Passei um pano pelo corpo dela e troquei a roupa . Coloquei um pijama meu pq estava com preguiça de mexer na malinha dela. (Não reclamou nada.). Já passavam das 21 hs. Ela falou que 
tava cansada mas que não conseguia dormir.(mas ela tirou cochilo). Chamei ela pra fazer uma oração comigo e ela disse pra eu fazer. que eu podia rezar. Eu insisti pra ela fazer a oração e ela não quis dizendo que me acompanharia. Então abri o evangelho e fiz uma leitura.. Ela ouviu quietinha e depois fizemos a oração do Pai Nosso. Dam ficou na sala. Ela pediu uma massagem no 
pescoço. Falou que estava doendo a 3 dias e que sentia a cabeça dela crescendo. Como ela já tinha falado isso pra Nelma eu não dei importância porque nunca sabia se era real. Passei álcool com 
mentruz no ombro dela e fiz uma leve massagem nas costas dela. coloquei o meu tubo de cromoterapia no quarto e perguntei se podia colocar umas musicas de louvores e ela escutou umas 5 ou 6 sem reclamar. (neste tempo ela cochilou.)
deixei ela cochilando e fui comer. 
Quando voltei ela pediu pra desligar a musica que ela ia dormir. eu passei a mão na cabeça dela e notei que estava suando frio. Medi a pressão estava 6 por 4. fiz ela beber muita água e ela 
começou a beber sem reclamar. Era copão de água e mesmo assim tomou.  As mãos e pernas também estavam frias. Medi tb a diabete e estava em 70. Dei uma colherinha de café de açúcar e com a água que estava bebendo foi voltando ao normal. Sentei do lado dela e durante uma hora seguida medi varias vezes a pressão até que ela 
normalizou. Chegando a 10 por 7 o que pra ela era normal. Diabetes também voltou ao normal. Ela pediu para eu levar ela na UPA. eu comecei a trocar a roupa dela. Coloquei a calca de moletom nela. Eu disse que a UPA não ia fazer nada e que eu a levaria para o servidor.
Ela disse então que não iria de jeito nenhum para o servidor. Eu perguntei o que estava doendo e ela disse que era as pernas e o quadril. Neste dia esse foi o único momento que perdi o controle da situação e falei em tom mais grosseiro com ela. 
Falei que era uma dor que infelizmente ela ia ter de suportar de vez em quando.  (depois me arrependi e  fiquei pensando quem vive com dor constante?)
ela estava sentada e falou que não queria mais ir. Já passava da 2 hora da manha e ela falou que 
estava começando a sentir a cabeça crescendo. Falei que ia levar ela no hospital Santo André ofereci mais água e ela não quis as mãos estavam quentinha mas a cabeça ainda estava com a temperatura
baixa. Ela falou que tava doendo o bumbum e pediu pra deitar e neste momento ela perguntou quem estava ali no quarto comigo. 
Eu disse que era só eu e ela e que o Dam estava dormindo na sala e que eu ia chamar ele pra gente ir pro hospital. Ela deitou e falou que ia descansar um pouco e perguntou se podia deitar do meu
lado da cama . Eu disse que sim . Ela se ajeitou então no meio da cama. Com os braços e as pernas abertos na cama, ocupou todo o espaço.  neste momento eu já tinha resolvido que a levaria no
hospital mas fui até a cozinha comer, bebi café e fui até o escritório liguei a luz do meu radio e apaguei a luz do escritório. Resolvi fazer antes uma oração. fechei meus olhos e comecei a rezar pedindo ajuda a Deus e aos anjos de luz.
Permaneci assim por uns 10 min quando o radio disse LOW BATERY e se desligou. Eu tive um susto e um estalo nesta hora (vi dois corpos brancos na minha frente. Um com mancha escura no peito e outro na barriga) e senti um impacto  como se tivesse levado um empurrão. . Abri os olhos acendi a luz do escritório e
corri pro quarto. acendi a luz e ela abriu os olhos perguntando o que aconteceu??
Estava serena. Perguntei se tava tudo bem e ela disse que sim. Pedi pra deitar do lado dela. 
Ela se ajeitou na cama e eu segurei a mão dela. Estava quentinha. Passei a mão no cabelo dela e alisei a testa e estava muito gelada. Falei mãe vamos pro hospital. Levantei. Ela falou me leva
no banheiro que quero fazer xixi e cocô. Como de costume ajudei ela a se sentar na cama e era normal ela falar ui ui ui. levantei ela e estiquei meu braço ela se apoiou e fomos para o banheiro. Ela me falou que a perna dela tava endurecendo. Eu então falei vamos devagarzinho então. .
Virei ela de frente pra pia como de costume e abaixei a roupa dela. coloquei ela sentada no vaso e ali ficou de 3 a 4 min eu fiquei em pé na porta. ela falou que não conseguia fazer mais nada
e que queria voltar. ofereci o papel e ela disse,  não fiz nada filha. Levantei ela e coloquei ela de pé de frente com a pia e coloquei a roupa novamente nela. 

Foi aqui que começou o meu desespero. 
Ela virou de frente pra mim e disse que não ia mais andar. 
Colocou os dois braços em torno do meu pescoço como se fosse me abraçar e disse novamente que não andaria mais. 
Soltou o peso do corpo. Gritei mãe acorda. Ela baixou a cabeça no meu peito e eu gritei chamando o Dam . Peguei ela pela cintura e coloquei ela na beirada da cama. Gritei pro Dam.
Foi quando olhei pro rosto dela  e vi os olhos muito aberto e parado. Vi ela respirar 3 ou 4 vezes como se fosse os últimos suspiros.
Dam colocou ela deitada a cama. Coloquei a mão de frente com o nariz e não senti o ventinho. 
Abri a boca dela e soprei  mas não senti nada. Danilo que estava já do meu lado fez massagem cardíaca e respiração boca a boca mas eu sabia no meu intimo que já tinha sido iniciado  o desligamento e que isso tinha acontecido no meu braço na porta do banheiro. 
Danilo assumiu. Eu liguei pro SAMU  meu filho disse que achava que ela tava respirando fraquinho ele massageou novamente  e ela vomitou um liquido amarelo. Quando isso aconteceu ele a virou de
lado e ela vomitou mais. Neste momento a samu já estava a caminho e eu achei que tudo daria certo. Ele continuou a chama-la e de repente ele parou. Estava sem sinal. Samu chegou e fez 
um eletro e constatou que não havia mais sinais vitais. Só declarou a hora do óbito. 
Deus quanta dor.
Minha mãe voltou pra casa do pai.  Acabou. 

Liguei pra Gilza desesperada. Gilza também ficou desesperada. 

Foram vários sinais que eu não percebi. Eu acho que eu podia ter mudado o rumo de tudo isso as duas horas da manha. Será que eu teria como mudar algo nesta história se eu a tivesse levado ao
hospital? Ela estaria viva agora? 
Danilo me confortou dizendo que foi melhor que tudo aconteceu aqui em casa num lugar quentinho e cheio de amor do que num hospital entubada e cheia de remédios . 
Eu não me conformo. Deveria ter percebido algo antes. Gilza falou pra eu passar no PS a tarde e eu não fui porque aceitei que ela não queria ir. (eu quase nunca concordava com ela mesmo , porque neste dia eu concordei?) Deveria ter levado e pronto. Sempre fui a megera mesmo. Eu a obrigava a comer, a sentar, a tomar água , a ficar coberta mesmo que muitas vezes não quisesse. Eu brigava semprecom ela pra fazer tudo isso e desta vez eu só concordei com toda a calma.
Será que ela entenderá que eu brigava por tudo isso porque eu amava demais ela e queria que ela estivesse bem?
Amo com todo o meu coração e eu falei muitas vezes isso pra ela. (MINHA BONEQUINHA TE AMO).

Passamos por muitos perrengues desde que ela fez a cirurgia. 
Tivemos momentos terríveis. Ficamos chateados um com os outros. 
Pedimos muito esforço físico pra ela. Choramos muito, mas também rimos. Ficamos doentes,  nos cicatrizamos, mas mesmo com todos os percausos que tivemos no caminho eu penso que esses últimos tempos ela recebeu todo amor e carinho 24 horas por dia de nós 3 filhas, genros  e netos. 
Claro que o restante da família também conta, ela recebeu todo apoio e carinho através das visitas das oraçoes   mas nós 10 (Nelma, Gilza, Eu, João, Dam, Berg, Marilia, Danilo, Pedro e 
João ) sabemos o quanto nos distanciamos e o quanto nos unimos pra que ela estive bem esses últimos tempos.
Desconheço totalmente o que Deus me reserva. Em minhas orações tenho pedido que seja feita a sua vontade seja ela qual for. 
Que enquanto estivermos aqui neste plano que seja com pessoas que amamos. 

Escrevi isto em 03/09. minha cabeça fica revivendo a cena varias vezes, parecendo um filme. 
Sei que essa dor vai passar e que ficará saudade. mas ta doendo muito.

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